Toda semana me dirijo à rodoviária
para viajar para a minha cidade e no período que lá permaneço,
cerca de duas horas, observo os seres que por ali passam. Pessoas
calmas, stressadas, sérias, risonhas, preocupadas, bonachões,
mulheres levando seus filhos, muitas vezes aos gritos, jovens que
estão começando a viver, velhos que há muito já não vivem. Não
sei ao certo em que categoria me enquadro, talvez seja apenas um
observador que, como percebo, também é observado.
É curioso notar que aquelas pessoas
provavelmente nunca mais se encontrarão, que aquela disposição de
seres é única, única como uma impressão digital, num curto
período de tempo irão se separar, cada um seguindo a sua jornada. É
lá que se encontram os amigos instantâneos. Você pergunta a hora
ou faz algum comentário sobre o atraso do ônibus e dali a pouco já
está escutando sobre a viagem de férias ou a história de família
de alguém. Foi assim que conheci um garoto que iria tentar
vestibular, uma garota que faz engenharia civil, una jovem senhora de
56 anos , muito culta por sinal, e as histórias do seu filho. Outra
vez, um rapaz que estava estudando inglês pois ia ser voluntário na
Jornada Mundial da Juventude. Lembro-me ainda de ir conversando com
um jovem corredor que iria participar de uma corrida no Peru, um
outro era aspirante a odontólogo. Alguns destes ainda encontro vez
ou outra.
Uma cena que lembro bem era a de dois
garotos, deviam ter dois ou três anos. Eles não se conheciam, um
estava com uma bola brincando então o outro chegou perto para
brincar também. Verdade que o menino dono da bola não quis brincar
com o outro e este começou a chorar. O que mais me fascinou foi a
espontaneidade da criança ao chegar perto da outra para brincar. Não
possuía a desconfiança, cuidado e polidez de um adulto ao se
aproximar de outro. Somente se aproxima e pronto. Me pergunto quando
perdemos essa espontaneidade.
Continuo observando, recortando e
tentando montar essa colcha de retalhos que é a vida, tentando
extrair um pouco dessa complexidade sem nunca perder o fascínio, mas
o que ainda não entendo é o porquê daquela senhora, quando eu
estava a caminho da rodoviária, ter feito uma careta e dado língua
para mim.
Tem várias formas de comunicação, estirar lingua talvés seja a forma da mulher ser notada, olha ai, funcionou.....
ResponderExcluirÉ, pode ser... é uma opção, só não é das mais bonitas ^^
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