- O quê? Mas o rio é todo poluido!
Como vou mostrar “a alegria de um domingo a tarde” ? Tenho que me
virar? Certo, certo.
Seu nome é Bing, escolha do pai
enquanto jogava palavras cruzadas, repórter formado pela
universidade a distância de sorocabinha do norte. Estava nesse
momento discutindo com o seu editor, que o estava mandando fazer uma
matéria sobre “a alegria de um domingo a tarde” em um rio da
região onde as pessoas iam se divertir nos fins de semana. O
problema era que o rio não estava tão, digamos, habitável.
Não havia discussão, o chefe falou
que ele teria que ir de todo jeito e assim ia ele para o local.
- Isso. Aqui está bom para iniciarmos
a gravação. - Bing dava as instruções ao seu câmera.
O local não era o que poderíamos
chamar de paraíso perdido. O rio estava cheio de cágados, deve ter
havido uma grande orgia para explicar toda aquela prociação, talvez
por causa dos degetos do novo refrigerante lançado. Objetos
flutuantes populavam o rio, desde garrafas pet à um sofá vermelho
que estranhamente girava como se tivesse vida própria. As pessoas
povoavam a margem. Observando rapidamente podia-se identificar um
garoto amarelo vendendo dudu andando de um lado para o outro, um
senhor com uma vara de pesca e um cachorro ao lado, uma senhora,
muito fina por sinal, embaixo de um garda-sol, uma criança que não
parava de correr com um ursinho de pelúcia numa das mãos. Mais ao
fundo um curioso senhor, deitado em uma cadeira de praia, lê um
livro. Curioso porque ele parecia não estar notando todo aquele
tumulto.
Duas garotas, que se não fosse pelo
som alto da música que tinham colocado poderíamos achar que estavam
tendo convulsões voluntárias de terceira gandeza, se divertiam
enquanto esperavam o provável namorado de uma delas preparar o
churrasco.
Bing se preparava para iniciar a
reportagem.
- Olá pessoal, na reportagem de hoje
iremos acompanhar o dia em um dos locais mais visitados nos fins de
semana. O famoso rio Ipojuca. Todos os fins de semana é repleto de
visitantes que vêm para se divertir, descansar ou simplesmente sair
um pouco da rotina semanal.
Observem a beleza do local.
O câmera mostra o rio onde mais um
sofá descia dessa vez com uma televisão em cima dele.
- Mark, vamos gravar essa parte
novamente.
O câmera, Mark era seu nome, se
prepara novamente.
- Observem a alegria do local.
Agora Mark mostra,numa visão geral,
as pessoas do local.
- Iremos agora conversar com algumas
pessoas para saber o quê...
- Duuduuuuu!!!
- Que moléstia é isso?!! - grita
Bing num acesso de cólera.
Alguém acabara de gritar ao ouvido
dele. Ao olhar para o lado percebe o garoto amarelo dos dudus.
- Dudu moço?
- Garoto, estamos gravando não está
vendo?
- E eu estou vendendo, quer um dudu?É
baratinho.
- Não, não quero. Quero fazer minha
reportagem, por favor.
O garoto se afasta.
- Vamos de novo Mark. Iremos agora...
- Duuduuuuuu! - o garoto amarelo se
afastava, mas ainda gritando.
- Calma Mark, nós conseguiremos. Acho
que ele já está longe, vamos continuar de onde paramos.
Mark se posiciona.
- Iremos agora conversar com algumas
pessoas...espere, o que é aquilo?
Várias pessoas estavam se aglomerando
tentando ver algo. Bing corre para ver do que se trata. Ao chegar no
foco da aglomeração, depois de vários pisões no pé e
cotoveladas, Bing vê o motivo de toda aquela confusão. O pescador,
que há pouco estava em pé com sua vara de pescar, se encontrava
agora chorando e gritando “eu pesquei, eu pesquei”. Bing vai
entrevistar o senhor.
- Um senhor, que há pouco estava
pescando, se encontra agora chorando pois conseguiu pescar algo. Vamos falar com ele agora. Senhor, qual o motivo de tanta alegria?
Compartilhe conosco.
- Veja, veja, eu pesquei! - numa das
mão o senhor exibia uma bota.
- Mas o senhor pescou uma bota, por
que tanta felicidade?
- É que eu já tinha pescado uma, com
essa agora tenho o par. - mostrando agora as duas botas.
- Que bom que o senhor agora tem o
par. Vamos continuar gravando em outo lugar Mark. - se impacientava
Bing. - Vamos voltar para aquela parte. Iremos agora conversar com
algumas pessoas para saber o quê existe de tão especial nesse
local.
Bing se dirige às duas garotas que
continuam “dançando”, passando pelo menino dos dudus que o olha
desconfiado.
- Olá garotas. Poderia falar com
vocês?
- Quê?!Que é que esse cara tá
falando?
- Não sei Pri. Deixa eu abaixar o
som. Oi moço.
- Olá, eu poderia entrevistar vocês?
- Nós vamo aparecer na televisão é?
Bora Pri.
- Oi meu nome é Priscila.
- E o meu é Vanessa. Eita, falta o
Kreber, meu namorado. Vem cá Kreber! É pra aparecer na televisão!
- a garota grita como se fosse parir naquele momento.
O namorado da garota se apróxima.
- Esse local, por que vocês vêm aqui
nos fins de semana?
- Porque aqui é o máximo cara, nós
traz o churrasco, coloca o som alto e as garota arrebenta. Saca só.
“Kreber” liga o som no máximo e
as duas garotas começam a “dançar”.
- Senhor, gostaria de fazer algumas
perguntas! Senhor?! - o repórter gritava mas sem resultados, a
música continuava alta e as garotas continuavam naquela dança do
acasalamento.
- Vamos Mark, vamos! Vamos entrevistar
aquela senhora sentada embaixo do guarda-sol.
No meio do caminho Bing é parado por
uma senhora. De touca na cabeça, avental, e o cabelo despenteado a
senhora parecia bastante nervosa.
- Seu repórter, quero fazer uma
denúncia. - falava a senhora,aos cuspes, ao repórter. - Sou
moradora daqui e acho tudo isso uma pouca vergonha. O rio é todo
poluído, as crianças estão todas doentes e esse pessoal fica aqui
com som ligado, dançando essas coisas do demônio, comendo
churrasco, pescando. Isso é um absurdo. Quero que as autoridades
façam alguma coisa! - a moradora agitava os braços para câmera
como em sinal de ameça.
- Minha senhora, sua denúncia foi
registrada mas eu gostaria de continuar minha reportagem . A senhora
poderia nos dar licença, por favor.
- Mas eu quero denunciar!
- Vamos fazer um acordo. A senhora vai
denunciar, mas daqui a pouco. Poderia esperar aqui do lado.
A moradora pareceu concordar pois saiu
da frente da câmera.
- Vamos Mark, falar com aquela mulher
debaixo do guarda-sol.
O repórter se dirige a fina senhora
que delicadamente chupa um dudu.
- Duuduuuuu!
- Moleque, sai daqui! - se irrita
Bing. - Olá, bom dia. Poderia entrevistar a senhora?
- Ah sim, claro. O que o senhor deseja
saber? - a elegante mulher deixa o dudu de lado e dirige a atenção
ao repórter.
- Por que a senhora vem a esse lugar?
Por que esse rio é um local bom de se frequentar em um dia de
domingo?
- Ah é simples. Eu sou psicóloga e
sei que é importante para mim e para minha filha frequentar locais
não habituais ao nosso convívio. Além disso esse dudu é ótimo.
O garoto amarelo olha para o
repórter com um olhar de vitória.
- E sua filha, onde está?
- É aquela ali atrás?
- Ah, aquela criança que ficou
pulando, dando tchau e língua para a câmera durante toda a
reportagem? - a garota continuava atrás, agora girando a cabeça
descontroladamente. -Adorável criança. Obrigado senhora, continue
apreciando o seu dudu.
- Agora é minha vez? - a moradora
continuava ali.
- Não senhora, quando for eu aviso.
Mark, falta entrevistar aquele senhor que continua a ler um livro
desde que chegamos.
Bing vai de encontro ao senhor, que
inerte a tudo aquilo, lê calmamente seu livro.
- Bom dia.
O homem move sua atenção para o
repórter.
- Estamos fazendo uma reportagem,
poderia fazer umas perguntas?
- Sim, claro. Pode perguntar.
- Estávamos observando. O senhor,
mesmo com todo esse alvoroço ao redor, continuou concentrado na
leitura desse livro. Como conseguiu? Esse local é tão relaxante
assim para o senhor?
- A questão é que eu trabalho a
semana toda, então nos domingos tiro folga e venho para esse lugar
para colocar a leitura em dia. Como sou uma pessoa muito concentrada,
consigo fazer isso facilmente. O problema agora é que com a chegada
de vocês terei que trabalhar.
- Como assim?
- O homem não responde, apenas tira
algo do bolso. Se parece com uma meia-calça, dessas marrons que as
mulheres usam. A coloca na cabeça, se levanta e se dirige a Mark.
- Perdeu cara, passa a câmera.
- Hã? Como assim? - Bing não entende
nada.
- Isso é um assalto. Passa a câmera
mermão! Tá surdo?!
O ladrão toma a câmera da mão de
Mark e começa a correr.
Mark e Bing começam a correr atrás
do homem e dessa vez é Mark que fala.
- Peguem o ladrão, essa câmera foi
parcelada em 36 vezes nas Casas Bahia e ainda estou na quinta
parcela...