O senhor Edgar era um
respeitável corretor de imóveis de uma pequena cidade do interior
da Inglaterra. Tendo viajado por todo o mundo a negócios, se
encontrava agora aposentado, vivendo feliz com a mulher.
Ultimamente um fato
curioso vinha ocorrendo, o que estava deixando a mulher de Edgar,
Judith, um pouco curiosa e receosa. Todos os dias, após o jantar,
Edgar se levantava e sapateava. Isso mesmo, sapateava. Fazia alguns
passos e saía da sala. No início Judith achou que o marido estava
apenas fazendo graça, mas quando percebeu que aquilo ocorria todos
os dias, começou a ficar preocupada.
- Querido, por que
você faz isso todos os dias? - questionava a mulher.
- É porque tenho que
fazer – respondia apenas, Edgar.
O mais constrangedor
era que o corretor não fazia aquele ritual somente em casa, mas
também em ocasiões sociais, como no jantar de noivado da irmã de
Judith. Estavam todos à mesa quando Edgar se levantou e realizou o
seu sapateio. Alguns riram, mas ficara claro que a maioria achou
aquilo bastante estranho. E isso se repetia nas mais diversas
ocasiões, deixando a esposa de Edgar cada vez mais preocupada.
Judith decidira então
pedir conselhos a sua mãe, Marta, sobre o que fazer. Essa que também
já havia notado o comportamento estranho do genro.
- Minha filha, você
tem que falar com o seu marido sobre essa situação. Saber se ele
está normal. - indagava a sogra do corretor.
- Já falei com ele.
Perguntei o por quê dele fazer isso e ele só responde que é porque
tem que fazer. Diz que não pode explicar.
- Seja mais forte e
exija uma explicação.
Foi o que Judith fez,
exigiu uma explicação e o que obteve foi a história mais inusitada
que já ouvira:
Isso aconteceu numa
viagem que fiz para a Irlanda, ano passado. - começava Edgar. - Em
uma das casas que eu estava vendendo, havia ocorrido, há pouco, um
caso sem explicação. Seu dono desaparecera misteriosamente. Os
vizinhos falaram que no dia anterior ao ocorrido ele estava bastante
nervoso e gritava constantemente no jardim: “você não vai mais me
dominar, não irei fazer mais suas vontades ”. No outro dia, ele
simplesmente desapareceu.
Quando fui ao local,
me deparei com uma casa bastante simpática e aconchegante. Andei por
cada cômodo, porém o que mais me interessou foi o seu jardim. Era
muito bonito e bem cuidado. Ao observar esse jardim, me deparei com
algo que me despertou a curiosidade. Próximo a uma pedra havia uma
folha de tamanho maior que as que haviam ali e de tonalidade
diferente também, vermelho escuro. Mas o que mais me chamou a
atenção é que havia algo escrito nela: “Sapateie!” . Quando li
aquilo, escuto uma voz vindo detrás de mim: “vamos, o que está
esperando?”. Naquele momento achei que meus olhos estavam pregando
uma peça. Se encontrava, perto de uma das flores, um ser pequenino,
vestido de verde, que me olhava com os seus olhos brilhantes. “Vamos,
vamos logo, faça!” , gritava a criaturinha impaciente. Quando me
recompus do susto, pude questionar o que era aquilo. “Me chamo
Alphonsus e sou um Leprechaun, ou duende como vocês humanos idiotas,
costumam chamar. Por ter lido a minha mensagem você agora será meu
escravo e terá como sina ter que sapatear cada vez que terminar uma
refeição.”, gesticulava grosseiramente o pequeno ser. Falei que
não faria nada disso, foi aí que ele veio com a ameaça: “se não
fizer o que mando, acabará como o dono desta casa. Me desobedeceu e
rapidamente sumiu.” Ele me mostrou a maneira que deveria sapatear e
desde então venho fazendo o que me mandara.
Após ouvir toda a
narrativa do marido, Judith tinha agora a certeza que ele estava
louco. Primeiramente procurou não o contrariar e concordou com tudo
o que dissera, dizendo que o apoiaria, mas sabia que tinha que fazer
algo a respeito.
Conversou com sua mãe
e juntas elaboraram um plano para tentar curar o marido.
Em um jantar reuniram
toda a família e ao final, quando o marido de Judith iria fazer os
passos, dois cunhados dele o agarraram.
- Mas o que estão
fazendo?! - exasperava-se Edgar.
- É para o seu bem
querido. Você verá que nada de mal irá acontecer se você não
sapatear hoje. - falava carinhosamente a mulher.
- Vocês não
entendem, ele vai sumir comigo, vai sumir comigo... - repetia,
amedrontado o homem.
Não permitindo que o
corretor realizasse sua sina, o amarraram e o levaram para o quarto.
O homem resistia fortemente e aos gritos protestava aquela
atitude.Quando finalmente conseguiram o colocar no quarto, voltaram
todos para a sala. Nesse momento ouviu-se um grande barulho, como o
de uma explosão. Todos correram, preocupados. Ao chegarem no quarto
perceberam que Edgar não se encontrava mais lá. Em cima da cama, que outrora se
encontrava o corretor,
percebeu Judith, havia uma folha de tonalidade escura com algo
escrito. Judith a pegou e leu o que estava escrito.
- O que diz aí? -
perguntou a mãe de Judith.
- Sapateie! -
respondeu a mulher.