segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Xadrez


Há muito tempo não escrevo por aqui, o meu trabalho final de curso é o motivo parcial.
Hoje me bateu uma vontade imensa de escrever, parecido com aquela vontade de tomar sorvete a meia-noite que de vez em quando temos.Talvez isso se deva ao escritor Rubem Alves, ele deve ser o culpado. Não conhecia seus textos, mas em meio a profusão de links do google, durante uma busca, me deparei com um texto desse escritor e fiquei encantado. Hoje li um texto dele sobre a prosa, onde fala que prosear é falar sem objetivo definido. A prosa não quer chegar a nenhum lugar, quer apenas acontecer. E citando Guimarães Rosa, me derrubou: “A coisa não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia”. Depois que li isso veio a vontade de prosear. E para fazer parte dessa prosa chamo o antigo jogo de xadrez. Jogando essa semana percebi quão profundo e fascinante é esse jogo. O xadrez é uma conversa entre duas mentes, sendo cada jogada uma frase onde o outro, se entender, responde de acordo, ou senão “fala algo desconexo”. Tudo isso pelo movimento de peças. É um tipo de linguagem de sinais, onde quanto mais se entende mais se prediz o outro. Sempre vi esse jogo como algo monótono porque muitas vezes jogava com os olhos e não com o cérebro. Li em algum site que nunca mova uma peça de xadrez se não tiver um objetivo, cada movimento deve fazer parte de uma tática.
E, como tudo aquilo que fascina tem seu mistério, não se sabe onde surgiu precisamente, uns falam que foi no Egito, outros na Índia, o certo é que muitas gerações se fascinaram com ele.Talvez isso aconteça por se permitir ver a mente do outro. Pois nele sua mente é publicada num mural, vista em funcionamento. E isso é raro, pois a mente humana é uma caixa preta. Olhando pra minha caixa preta, variáveis X,Y,Z, I,J entre outras surgem, não digo que isso é normal mas acredito que seja comum, não público, mas comum. Tentamos nos entender e entender os outros segundo uma percepção estática. Acredito que o entender deva ser encarado como no jogo de xadrez, onde cada atitude abre possibilidades para N outras e não apenas para uma.Vou terminando a travessia desse texto. Interessante essa tal de prosa, permite que a mente caminhe e que o apreço se volte para esse caminhar e não somente para o ponto de chegada. Espero que não tenha sido enfadonho, espero que tenha sido uma boa conversa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Salvem o Terapeuta

    -Pode começar a falar. O que lhe trouxe aqui?
    -Bem, doutor, eu não sei mais o que pensar, estou muito confusa, meu emocional está muito abala...(choro)
    -Calma, estamos aqui para tentar resolver essa questão, continue falando.
    Continuou, agora mais calma.
   -As pessoas dizem que gostam de mim, que sou o que elas querem...
   -Não vejo isso como problema.
   - Porém o que me confunde é que depois me xingam, querem que eu vá embora logo..(choro, abre a janela para pular, mas ver que está frio e a fecha)
   - Calma, apenas continue falando. Me explique melhor.
   - As pessoas dizem que me querem, que não veem a hora de eu chegar, que eu deveria permanecer por mais tempo.Nesse momento meu ego cresce, minha auto-estima se eleva... E quando chego, sou bem recebida, mas após algum tempo...
    Rapidamente o terapeuta consegue retirar das mãos dela uma caneta com a qual ela insistia em tentar perfurar o olho.
   - Mas após algum tempo, dizem que não estão me aproveitando bem ou então falam que estão ansiosos para que eu vá embora...
   - Se sente mal com isso?
   - Se eu me sinto mal?!Olhe minha cara de felicidade!Pareço estar mal...
   Dessa vez ele é mais rápido e impede que ela acenda um isqueiro e tente se queimar.
   - Muitas crianças são sinceras e dizem que não gostam de mim e pronto.Eu não entendo...(choro)
   - Sua família lhe apoia nesses momentos?
   - Ela é muito grande e todos estão ocupados o tempo todo, se transformam em vários para darem conta do trabalho.
   - E você, não deveria estar trabalhando?
   - Era, mas eu fugi, estou fugindo de tudo, estou fugindo da vida....
   O terapeuta avança em cima dela e a faz cuspir todos os comprimidos que tentava ingerir de uma vez só.
   - Eu não entendo o por que disso tudo!Qual o problema comigo?!
   - Compreenda que as pessoas mudam de opinião rapidamente, nunca estão satisfeitas. Você, palavra Férias, geralmente é vivida uma vez por ano.Muitos não conseguem lidar com isso, ficam perdidos. A sua complexidade-simplista os intimida.Não sabem o que dizer, falando assim essas coisas.
    A Palavra Férias pareceu se acalmar um pouco com essas palavras do terapeuta.Olhava para o teto, não sabia-se porém se era em reflexão ou por causa do ventilador que girava com suas hélices de metal.Por via das dúvidas o médico afastou a Palavra daquelas hélices.
   - Vá para casa, reflita um pouco o que eu disse que na próxima consulta iremos nos aprofundar mais em cada questão.
   - Está certo.- falou agora mais calma.
   A Palavra sai do consultório em reflexão.O terapeuta fecha a porta num suspiro:
   -Complexidade-simplista, de onde tirei isso?Vejo que preciso de umas férias...

sábado, 18 de junho de 2011

Alice


    Assisti hoje o filme Alice e nele coisas fantásticas são ensinadas, não só ensinadas mas também lembradas.Coisas que sabíamos na infância mas que fomos obrigados a esquecer.No filme, Alice agora na adolescência retorna ao País das Maravilhas, porém acha que é um sonho e não se lembra bem da outra vez que esteve lá.Os seres do País se perguntam se essa é aquela Alice de tempos atrás .Ao ser peguntada se achava que essa era a Alice a lagarta azul diz que dificilmente é. Alice tinha perdido a sua determinação,sua essência.Me pergunto, quantos de nós perdemos a nossa essência,quanto eu perdi do Júnior Pires que era. Perdemos parte do que éramos na infância porque nos mostram o contrário.Perdemos principalmente a imaginação, levamos uma martelada da sociedade que nos diz:”a realidade é essa e nada foge disso”.O pai de Alice dizia pensar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã. Fala que o impossível só poderá se tornar possível se pensarmos que é.O impossível se mostra presente em todo o filme, gritando:”sou possível”.Pensar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã, interessante exercício diário, façamos o mesmo.O gato risonho, na história original (que ainda não li mas vou ler), fala à garota que todos são loucos:o chapeleiro, o coelho de março,ele e a própria Alice.E no filme, quando Alice se questiona ao pai se está ficando louca este afirma que sim, mas completa:”as melhores pessoas são”.Na minha opinião, as pessoas que perderam a sanidade mental o são porque possuem um excesso de imaginação e não sabem lidar com ela, porque estão presas a realidade.Que possamos ter esse excesso de imaginação, porém aceitá-lo e aumentá-lo.Sejamos loucos, somente. A partir de agora, pensemos no impossível todas as manhãs antes do café.Sim, isso é possível.

domingo, 5 de junho de 2011

Loucuras diárias




Manias, podemos falar de algumas.Talvez sobre dona Corinha,uma senhora que diz ficar com dor nos pés toda vez que assiste a novela das oito.Ela não sabe dizer o por que, mas toda vez que a novela acaba afirma que seus pés ficam imensamente doloridos.Será que a senhora não fica mexendo os pés durante a novela, perguntou certa vez seu neto.Não era isso, ela sabia.
Tem o caso de Seu Tambentino, que não suporta a palavra centelha.Quando alguém pronuncia essa palavra ele sente vontade de esganar a pessoa.Quer acabar com o dia de Seu Tambentino fale a palavra centelha.Ele também não sabe dizer o por que disso, desde a juventude que essa palavra muda seu humor.
E o curioso caso da menina laurinha, que em dias de chuva não lava as mãos.
Manias estranhas, mas quem não tem suas manias.Eu mesmo a um tempos atrás tinha que olhar em baixo do copo antes de beber algo, também não sei explicar o por quê.Passava algum tempo olhando embaixo do copo e só depois bebia.
Essas pequenas manias fazem parte da nossa singularidade.As pequenas loucuras de cada dia.Todos temos mas não as revelamos a ninguém por medo do ridículo. Na minha opinião, ridículo é não tê-las.Qual a sua?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Atleta do Coletivo


      Não há ninguém com maior vocação para atleta que o passageiro de ônibus coletivo. É algo que dificilmente ele pode fugir, está na sua essência.
      A primeira prova é a de cem metros até o ônibus, porque na maioria das vezes que se está chegando a parada o ônibus já está para sair ou saindo.É nesse momento que o nosso atleta se prepara e começa a corrida e com obstáculos, tem que se ter uma verdadeira capacidade de orientação para desviar das pessoas e alcançar o ônibus.Sem esquecer daqueles que entram na modalidade cem metros até o ônibus com obstáculos e carregamento de peso, pois as bolsas são acessórios recorrentes dos passageiros.
     Chegando ao veículo começa a prova de equilíbrio, o atleta está subindo e o ônibus saindo. Tenta-se segurar em qualquer superfície mais próxima para manter-se em pé. Quem não se dá bem nessa prova acaba tendo sérias contusões.
Conseguindo passar dessa, inicia-se a prova de resistência. Há uma diversidade de odores desagradáveis no ar e a missão agora é resistir a todos eles durante o percurso.Não é fácil, a intensidades de odores faz alguns terem vontade de se defenestrarem do ônibus.
     Aliado a isso existe a prova psicológica.O nosso atleta do coletivo já está com os nervos a flor da pele, por isso qualquer coisa é motivo para discussão: celular com som alto, cotovelada, espirro, janela aberta...deve-se ter muito cuidado a esta altura. A calma e a paciência são vantagens indispensáveis aqueles que estão dispostos a chegar ao destino vitoriosos.
     Eis que se aproxima a parada de destino do nosso atleta.Recomenda-se que começe a se aproximar da saída, onde terá inicio a prova final. Nesse momento começa-se uma batalha para passar pelos que estão em pé e chegar a saída. Pisões no pé, cotoveladas, empurrões... é quase um vale-tudo. Aqueles que não conseguem chegar a tempo terão que descer em uma próxima parada, porém os que chegam a tempo saem vitoriosos desta olimpíada. Conscientes de que no dia seguinte haverá outra.
     Congratulações a estes atletas diários. Aqueles que enfrentam todas essas adversidades para chegar ao seu destino. Somos realmente resistentes.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Depois...


Procrastinar, como é bom. Percebi que somos procrastinadores desde sempre. Aquelas crianças que quando nascem não choram, procrastinadoras. Devem pensar:”ah eu choro depois ”. Por falar no “depois”, que palavra dominadora. Deve ser uma das mais pronunciadas durante a vida.”Depois eu almoço,mãe”, “depois eu ligo”, “depois a gente conversa”,”depois eu limpo”. Os piores são aqueles que : “depois eu pago”,”depois eu tomo banho”,etc.E as que mais atrapalham a vida:”depois eu estudo”,”depois eu resolvo”.Essa última é assassina de tempo.
A palavra “depois ” deve causar algum prazer, como um vício. Deveria ser estudada mais a fundo pelos linguistas, quem sabe seja o “s” no final ou esse estranho “d ” no começo, não sei,depois eu penso nisso...depois não, depois sim... ela é tão poderosa que consegue aparecer nesse texto muitas vezes como um vício de linguagem incontrolável, depois,depois...
Muitas pessoas afirmam viver no passado; duvido. Delegam tanta coisa para o futuro, que pro passado não sobra nada. O problema é quando o futuro chega:” oi, está na hora”.Acabou-se tudo, o “depois” que causou tanto prazer agora é odiado, mas logo volta-se a amar o “depois”, ele tem essa característica misteriosa.
Essa crônica mesmo foi um pretexto para adiar o estudo do assunto da prova que vou ter amanhã. O depois está começando a ser odiado agora, então vou parando por aqui.Vou estudar.Depois a gente conversa mais.

sábado, 2 de abril de 2011

História Mal Contada


                Já faz um tempo que os personagens da história de chapeuzinho vermelho vêm me pedindo um espaço no blog para um desabafo sobre esse conto. Hoje venho disponibilizar esse espaço para seus depoimentos.

Chapeuzinho Vermelho: Eu não gosto de vermelho, prefiro rosa. Chapeuzinho rosa seria bem melhor. Bem, o começo da história não me agradou nada. A cesta de doces já era pesada e eu ainda tive que carregá-la pelo caminho mais longo, meus pés chegaram inchados à casa da vovó. E se a vovó estava doente, eu deveria estar levando remédios também.               
                Entrando na casa, me deparei com um lobo horrivelmente disfarçado de vovó, só que, como a história mandava, tive que fingir não ter notado e falar aquelas frases de criança de dois anos: que nariz grande a senhora tem... blá,blá, blá...

Mãe de Chapeuzinho: Que idéia foi essa de pôr a vida da minha filha e da minha mãe em perigo?! Esse autor deveria ter levado umas boas palmadas.

                O Lobo Mal não morreu, sua barriga foi costurada e também quis deixar o seu desabafo.

Lobo Mal: Foi uma humilhação. Tive que me vestir de mulher e fazer uma voz de velha. Em casa ninguém me respeita mais. Quando faço alguma festa, o meu filho, lobinho mal, faz questão de lembrar o episódio e todos riem de mim. Lembrando também que depois que o caçador tirou a vovó da minha barriga, aquela velha veio com um sermão: ” respeite os mais velhos Lobo Mal, não coma mais pessoas da terceira idade, se forem políticos pode-se pensar no assunto...”

Vovozinha: Foi pavoroso ficar na barriga daquele lobo, quando ele corria para pegar chapeuzinho eu ficava sacolejando para lá e para cá. Ainda bem que ele não comeu Chapeuzinho porque ali dentro não cabia mais ninguém. O lado bom foi que casei com o meu salvador, o Caçador, e hoje vivemos muito felizes.

Caçador: Aposto que aquela velha disse que éramos felizes. Mentira, tudo mentira. Ela não me deixa mais caçar, diz que é a minha caça: “Sou a Loba Má, sou a Loba Má, venha me caçar...”. Por favor, se algum escritor se comover faça uma continuação onde o caçador casa com a vovó, mas se separa porque teve que ir caçar na África. Salvem-me daquela velha.

Sei o que vocês estão pensando, não percebemos nada do que foi dito quando nos foi contado essa história.A partir de hoje o blog está aberto para depoimentos de personagens de histórias infantis.Vamos ficar aguardando outros.


domingo, 20 de março de 2011

Os cinco pinicos de ouro



Antes que alguém fale que o certo é PENICO, escolhi como é falado, penico é muito estranho. E afinal, as pessoas fazem a linguagem.  Bem vamos à crônica.

Passos apressados são escutados pela casa.
                - Roubaram a casa!
                -O que foi Dona Margareth?
                -Dr. Mauro, roubaram um dos cinco pinicos de ouro.
                Mauro Mey, Dr. em otorrinolaringologia, era de família rica e possuía cinco pinicos de ouro. Herança de seu tataravô Eustáquio, que tinha preguiça de ir ao banheiro no meio da noite.Mauro, particularmente, não gostava dos pinicos, mas sua mulher Lavínia fazia questão de tê-los. Quando acontecia alguma festa na casa, chamava todos os convidados, mostrava os pinicos e dizia em tom de orgulho:
                - Muitas gerações da família Mey já defecaram nesses pinicos.
                Geralmente fazia isso depois do jantar; perdeu muitos amigos.
                Agora uma dessas relíquias dourada havia sido roubada.
                - Como isso pode ter acontecido?- perguntava Mauro.
                -Não sei. Cheguei aqui para espaná-los e notei que estava faltando um.
                -Não deixe Lavínia escutar.
                - Não vai dizer que um dos pinicos foi roubado?
                - O quê?! Roubado?!
                Lavínia acabara de entrar.
                - A nossa herança- exasperava-se. – Rápido, chamem a polícia.
                - Bem, Dona Lavínia, tomei a liberdade de chamar um detetive. Acabei de ligar.
                - Fez bem Margareth.
                Depois de meia hora aproximadamente, chega o detetive.
                - Boa tarde, sou o detetive Não Sei o Nome e este é meu amigo Matou o Ócio.
                - Boa Tarde. Eu e minha mulher estamos aflitos.
                - Contem-me o que aconteceu. Mas antes, quero fazer algumas observações. Vejo que o senhor é otorrinolaringologista, foi boxeador na juventude e comeu camarão no jantar de ontem.
                - Como o senhor descobriu isso?- espantava-se Mauro.
                - Simples. Minha irmã já se consultou com o senhor, vi o troféu de um campeonato de boxe ali atrás com o seu nome e data de quando era jovem. A comida identifiquei pelo cheiro do pum que soltou agora a pouco.         
                - Pensei que viesse dos pinicos.
                Olhe que meus pinicos são muito bem limpos, Matou o Ócio. - irritava-se Lavínia.
                - Contem-me agora o que aconteceu.
                Margareth, a empregada, contou toda a história. Depois de ouvi-la, o detetive e seu amigo foram ver o local do crime. Observou os quatro pinicos e o local em que ficava o que fora roubado.
                Voltando a sala de estar, Não Sei o Nome tinha algumas perguntas a fazer.
                - Dona Margareth, notou algo de estranho durante a noite?
                - Acho que não.
                - Nenhum barulho?
                - Ah sim. Lembro de ter ouvido algo parecido com água sendo derramada.
                - Portas e janelas estavam fechadas?
                - sim, estavam.
                - Sra. Mey, quantas pessoas moram nesta casa?
                - Somos eu, meu marido e nossa empregada Margareth, os outros passam apenas o dia.
                Não Sei o Nome meditou por alguns instantes.
                - Já descobriu o ladrão, Matou o Ócio?
                - Não consigo ver a solução.
                - Eu já. Quem roubou o seu pinico  Sra. Mey, foi a Srta. Margareth.
                - O quê? Eu? Não foi mesmo!- exaltava-se a empregada.
                -  Foi sim.- continuava a afirmar o detetive.- Foi você quem ligou para mim, isso para não levantar suspeitas. A história do barulho de água era só para despistar. A Srta. Estava precisando de dinheiro; tendo os pinicos sempre perto, a ambição falou mais alto, então inventou aquela história toda. A Srta. é a única empregada da casa, não havendo sinal de arrombamento...Confesse.
                - De maneira alguma! Quem roubou o pinico...roubar não,pegar...foi o Dr. Mauro.
                - O quê?! Está acusando meu marido?!
                - Querem ver? Primeiro, ele não queria que eu avisasse do sumiço do pinico; apesar de não gostar muito dessa herança de seu tataravô, estava muito nervoso e, pelo cheiro do pum que soltou, certamente está com diarréia.
                Nesse momento, dona Margareth se levantou e foi em direção a cena do crime, voltando com algo na mão.
                - Eis aqui a prova que confirma minha acusação. – continuou ela. – Um botão do pijama do Dr. Mauro, estava perto dos pinicos. Não sei como essa prova lhe escapou Não Sei o Nome.
                O detetive olhou-a com certo constrangimento.
                - O Dr. provavelmente não se sentia bem e acordou no meio da noite para ir ao banheiro. Não conseguindo chegar lá, fez o “serviço” em um dos pinicos. Foi esse o som de água derramando que escutei. Após deve ter escondido o pinico. Pela manhã, iria limpá-lo e colocá-lo no lugar, como descobri o desaparecimento e chamei um detetive, teve que continuar calado.
                - Foi isso que aconteceu querido?- perguntava Lavínia.
                - Bem, querida, deve ter sido aquele camarão de ontem... Não pude agüentar.
                - Mas por que não me disse?
                - É que pensei que ficaria brava.
                - Querido, você é um Mey. Pode defecar quantas vezes quiser nos pinicos. Não Sei o Nome, você é um péssimo detetive. Quase incriminou a Margareth.
                - Os indícios estavam contra...
                - Não conseguiu terminar a frase, pois se lembrou do show de inteligência de Margareth.
                - Tudo está resolvido, mas afinal, onde está o pinico?- perguntou Matou o Ócio.
                - Eu o coloquei na lata de lixo.
                - Por isso que o lixo fedia tanto... Mas esperem, estão escutando? O caminhão do lixo está saindo. E com o pinico!
                - A herança da família! Parem aquele caminhão! – alterava-se Lavínia.
                Todos saíram correndo atrás do caminhão e Lavínia gritava:
- Parem, quero o meu pinico!

terça-feira, 8 de março de 2011

A mulata de Seu Arlindo



                Festa de carnaval em casa é sempre aquilo: alegria, som alto, bebidas e a casa toda destruída. Primos, sogra, tios, tias, afilhados sempre por ali, cunhado, um vizinho bêbado que vomita no sofá, um garoto que você não sabe quem é e depois vem descobrir que é um dos afilhados, a cunhada que só vai pra falar mal de você, sem esquecer daquele cara que está no sofá, com o vômito do vizinho, na quarta-feira de cinzas e você não sabe quem é.
                Não estava sendo diferente na casa de Seu Arlindo. Todo ano reunia família e adjacentes e fazia a festa. Era terça-feira, a casa já estava destruída, mas a alegria é que importava. Naquele instante entra, como que trazendo uma escola de samba inteira, uma mulata que já chega sambando. Não qualquer mulata, mas daquelas que parecem já vir com o carimbo: ”Made in Rio de Janeiro”. Sambando, sambando e chegando perto de Seu Arlindo. Dona Miriam, mulher de Seu Arlindo, quando vê aquilo vai logo tomar satisfações. A mulher, que dizer que se assemelha a um peixe-boi não chega a ser um eufemismo, vermelha e eufórica já grita:
                -Quem é essa mulata, Arlindo? Dou cinco segundos pra explicar.
                -Não tenho idéia.
                Falava a verdade, estava tão atônito quanto à esposa. De onde viera aquele mulherão, se questionava.
                -Como pode não se lembrar de mim Lindinho. Sandra, a sua rainha da bateria.
                O homem não entendia, estava confuso e com medo da mulher que já se preparava para o ataque.
                -Após os desfiles das escolas de samba do Rio ano passado. -continuou Sandra.
                O mais curioso é que a mulata contava a história, mas não parava de sambar. Parecia estar no automático.
                -Seu cachorro, você não foi visitar sua tia doente ano passado. Foi pra farra.
Tinha ido visitar a tia doente, mas aproveitou para ir ver as escolas de samba do Rio. Lembrava que estava no sambódromo, mas só isso. Havia bebido demais, esquecera todo o resto.
                Vendo todo aquele alvoroço, o irmão de Miriram tentou intervir:
                - E aí, mulata. Trouxe tudo ou deixou alguma coisa em casa.
                Miriam avançou contra Sandra.               
                -Aguarda Arlindo, quando eu terminar com ela o próximo será você.
                Seu Arlindo e alguns parentes tentaram segurar a criatura. A força dela estava fora do comum, foi preciso cinco pessoas para segura-la. O irmão de Miriram também tentou ajudar, mas de um modo estranho, pois segurava Sandra. Porém a passista não estava avançando contra ninguém.
                -Me solta seu tarado.
                Após muitos minutos, domaram a mulher.
                Levaram-na para o quarto. A irmã foi junto, oportunidade única de falar mal do cunhado. Miriam foi aos prantos. E Seu Arlindo ficara ali, desnorteado e pensativo. Nunca mais beberia tanto no carnaval, refletia. Como poderia ter esquecido de tal mulata. Por fim, levantou-se, olhou para Sandra, que continuava sambando, e concluiu: ”afinal, hoje é carnaval”. Chegou perto da mulata, disse-lhe duas palavras e saiu sambando pela sala.                                                                                                                                                                                               
PS.: Os palavrões de Dona Miriam foram omitidos para preservar a integridade da crônica.                                      


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