terça-feira, 8 de março de 2011

A mulata de Seu Arlindo



                Festa de carnaval em casa é sempre aquilo: alegria, som alto, bebidas e a casa toda destruída. Primos, sogra, tios, tias, afilhados sempre por ali, cunhado, um vizinho bêbado que vomita no sofá, um garoto que você não sabe quem é e depois vem descobrir que é um dos afilhados, a cunhada que só vai pra falar mal de você, sem esquecer daquele cara que está no sofá, com o vômito do vizinho, na quarta-feira de cinzas e você não sabe quem é.
                Não estava sendo diferente na casa de Seu Arlindo. Todo ano reunia família e adjacentes e fazia a festa. Era terça-feira, a casa já estava destruída, mas a alegria é que importava. Naquele instante entra, como que trazendo uma escola de samba inteira, uma mulata que já chega sambando. Não qualquer mulata, mas daquelas que parecem já vir com o carimbo: ”Made in Rio de Janeiro”. Sambando, sambando e chegando perto de Seu Arlindo. Dona Miriam, mulher de Seu Arlindo, quando vê aquilo vai logo tomar satisfações. A mulher, que dizer que se assemelha a um peixe-boi não chega a ser um eufemismo, vermelha e eufórica já grita:
                -Quem é essa mulata, Arlindo? Dou cinco segundos pra explicar.
                -Não tenho idéia.
                Falava a verdade, estava tão atônito quanto à esposa. De onde viera aquele mulherão, se questionava.
                -Como pode não se lembrar de mim Lindinho. Sandra, a sua rainha da bateria.
                O homem não entendia, estava confuso e com medo da mulher que já se preparava para o ataque.
                -Após os desfiles das escolas de samba do Rio ano passado. -continuou Sandra.
                O mais curioso é que a mulata contava a história, mas não parava de sambar. Parecia estar no automático.
                -Seu cachorro, você não foi visitar sua tia doente ano passado. Foi pra farra.
Tinha ido visitar a tia doente, mas aproveitou para ir ver as escolas de samba do Rio. Lembrava que estava no sambódromo, mas só isso. Havia bebido demais, esquecera todo o resto.
                Vendo todo aquele alvoroço, o irmão de Miriram tentou intervir:
                - E aí, mulata. Trouxe tudo ou deixou alguma coisa em casa.
                Miriam avançou contra Sandra.               
                -Aguarda Arlindo, quando eu terminar com ela o próximo será você.
                Seu Arlindo e alguns parentes tentaram segurar a criatura. A força dela estava fora do comum, foi preciso cinco pessoas para segura-la. O irmão de Miriram também tentou ajudar, mas de um modo estranho, pois segurava Sandra. Porém a passista não estava avançando contra ninguém.
                -Me solta seu tarado.
                Após muitos minutos, domaram a mulher.
                Levaram-na para o quarto. A irmã foi junto, oportunidade única de falar mal do cunhado. Miriam foi aos prantos. E Seu Arlindo ficara ali, desnorteado e pensativo. Nunca mais beberia tanto no carnaval, refletia. Como poderia ter esquecido de tal mulata. Por fim, levantou-se, olhou para Sandra, que continuava sambando, e concluiu: ”afinal, hoje é carnaval”. Chegou perto da mulata, disse-lhe duas palavras e saiu sambando pela sala.                                                                                                                                                                                               
PS.: Os palavrões de Dona Miriam foram omitidos para preservar a integridade da crônica.                                      


 Url da imagem: http://vidaaosdesenhos.blogspot.com/2010/07/mulata-assanhada.html

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