Ganho
o corredor, passo pela copa onde o relógio está acabando de bater
cinco horas. Atravesso a cozinha, vendo a Alzira a remexer em suas
panelas, sem tomar conhecimento da minha existência. Desço a escada
para o quintal e dou com um garotinho agachado junto ás poças
d'água da chuva que caiu há pouco, entretido com umas formigas.
Dirijo-me a ele, e ficamos conversando algum tempo.(*)
***
- O
que está fazendo? - pergunto ao garoto.
- Shhh!
Silêncio ou elas irão embora. Elas não gostam de barulho. -
repreende o menino.
- Elas
quem?
- As
formigas, claro.
- Ah
sim, claro. O que elas estão fazendo?
- Tentei
perguntar, mas não me falaram nada. Acho que estão formigando,
mas não sei bem o que.
- Formigando?
- É,
coisas de formiga.
O
garoto volta a observar as formigas, ignorando a minha presença
ali. Volta a tentar entender aquele, que no seu mundo, considera um
grande mistério.
***
(*) Primeiro parágrafo: Trecho do livro O menino no Espelho de Fernando Sabino.
Ilustração de Carlos Cavalcante.